A palavra “estratégia” pode ser em muitos casos substituída por “com ênfase nos objetivos de longo prazo”. Por exemplo: “plano estratégico” deve ser entendido como “plano com ênfase nos objetivos de longo prazo”. Nações, povos, indivíduos e empresas fazem bem em cultivar seus próprios planos estratégicos, pois muitos planos (os bons) fazem sentido apenas se praticados em prazos longos. O oposto de ter e cultivar um plano estratégico é seguir os conselhos do Zeca Pagodinho com a música “deixe a vida me levar, vida leva eu ...”. Quem não tem plano estratégico não está indo a lugar nenhum. O mundo não costuma ser benevolente com quem pensa e age assim.
Pensemos na origem da palavra “crise” em chinês. A imagem representa as 2 letras chinesas que combinadas significam “crise”, sendo a letra da esquerda a representação de “perigo” e a da direita “oportunidade”. Pronuncia-se “wéijī”. O Brasil encontra-se claramente em situação de grave crise. Nesse Post abordo os aspectos de perigo e de oportunidade da nossa crise corrente. Apresento também um argumento que Big Data é um bom componente para um plano estratégico coletivo e individual.
O Perigo: O
programa Globo News Painel, exibido no dia 30/05/2015, conduzido por
Renata Lo Prete, tem
título “Especialistas avaliam a polêmica sobre o ajuste fiscal”.
A pauta foi
de “tentar esboçar uma agenda de
desenvolvimento para o Brasil, pós ajuste fiscal”. Consta
que quase todo mundo concorda que “a
retomada do controle das contas públicas não basta para produzir
crescimento”. Para piorar “como se pode falar num pós ajuste, se
o próprio ajuste não está assegurado?”. Os convidados para
discutir o tema foram Marcos Lisboa, Fernando Sampaio, Cesar
Benjamin. Vou fazer uma seleção de citações desse programa. Numa
passagem do programa,
Cesar Benjamin comentou que “nós (brasileiros) vivemos numa região
muito periférica do mundo; a minha impressão é que o mundo quer do
Brasil alimentos (soja e outros alimentos), minérios, petróleo, e
de preferência temperado com uma cerejinha de juros altos (…); se
o Brasil oferecer ao mundo alimentos, minério, petróleo e juros
altos, o mundo está (sic) satisfeitíssimo (…); se nós
(brasileiros) quisermos não ficar nessa posição (…) nós temos
que ter uma enorme capacidade de fazer um esforço endógeno; nós
dizermos 'não
é essa a posição que eu quero, eu quero construir uma outra'
como os Estados Unidos fizeram no século 19, em que eram país
periférico como o Brasil e terminaram o século como a grande
potência industrial, como a China vem fazendo na segunda metade do
século 20 para cá; quer dizer, são grandes países periféricos
que num
certo momento da sua história disseram: 'eu
não quero esse lugar que vocês
estão me designando, e eu
vou construir o lugar que eu quero,
e vou pagar o preço, porque isso
tem preço'. Eu
acho que o Brasil perdeu essa capacidade. Isso
não tem a ver exclusivamente com o governo Dilma. É uma coisa muito
mais ampla. Envolve o nosso sistema político e envolve o nosso
Estado Nacional, que foi completamente depauperado. Nós há muitos
anos construímos governabilidades de curto prazo a custa do
loteamento do Estado, gerando uma ingovernabilidade de longo prazo. E
o longo prazo chegou. Essa soma de governabilidades de curto prazo
gera um Estado que não cumpre suas grandes funções
estruturantes.(...) Nós temos um problema que está fora da
macroeconomia. Nós não temos hoje um estado nacional e um sistema
político capaz de liderar um projeto nacional que diga para o mundo
(...): 'Não podemos ser uma economia exportadora de soja, minério
de ferro e petróleo. Esses juros que vocês querem, nós não vamos
dar.' Para fazer isso você tem que ter custo. Tem que ter um projeto
e pagar o custo, como todos os que tiveram projeto nacional pagaram.
Nosso sistema político não tem capacidade nem de formular esse
projeto nem de bancar nenhum custo associado a ele. Acho que está aí
o X do problema.”
Antes de
prosseguir, faço uma reflexão. É
muito citado o fato de o Brasil ser
um país com desigualdades sociais. É adequado ressaltar que as
desigualdades brasileiras são também educacionais e intelectuais. E
existe forte correlação entre deficiência de educação e de nível
social. A boa notícia é que todos os humanos possuem quantidade
aproximadamente igual do recurso essencial para o desenvolvimento
educacional e intelectual: neurônios. Em toda história da
humanidade, nunca nasceu um indivíduo com muito mais neurônios que
os demais integrantes da nossa espécie. Não se sabe o motivo de
eventualmente nascer uma pessoa genial. Aparentemente a capacidade
mental elevada é um fenômeno que pode ocorrer em qualquer lugar e
tempo. Se estimulado adequadamente, e se houver oportunidade,
qualquer um de nós pode fazer alguma coisa sensacional. Na era da
Internet, embora a parte estrutural
ainda precise melhorar muito, já há
acesso a informação e oportunidade para muitas pessoas.
A Oportunidade:
Pensemos. O mundo está construindo
uma nova sociedade digital. O mobile é o controle remoto do mundo,
que está sempre ligado e conectado a Internet (cloud). Há uma
quantidade enorme de procedimentos da vida humana que podem e devem
ser repensados diante da possibilidade de uso de sistemas digitais,
com ênfase em cloud e
mobile. O uso intensivo
de tecnologia de informação cria enormes quantidades de dados, para
os quais a tecnologia de Big Data pode auxiliar para que sejam
tratados. As oportunidades que o mundo observa nesse
setor são gigantescas. O que nos
limita para fazermos no Brasil o melhor software do mundo? O que nos
limita para jogarmos o jogo que
eventualmente nos tornará autores e
proprietários de novas empresas de referência como Facebook? Claro
que há alguns fatores que atrapalham especificamente o Brasil. Há
quem chame esses fatores de “custo Brasil”. Mas no
setor de software, estamos
proporcionalmente muito pouco afetados por esses fatores. Não
é difícil ter acesso aqui a todo o necessário para desenvolver
software e implantá-lo na cloud, da mesma forma que nossos
concorrentes.
Estou obviamente
pregando que o Brasil tenha pelo menos um plano estratégico: ser um
país forte em software. Se quisermos isso para nós, deveremos nos
empenhar em criar as condições para favorecer o florescimento dessa
atividade. Devemos em primeiro lugar, reforçar a educação básica,
e também a educação e treinamento específico para a atividade de
software. Tenho procurado conduzir a UFRJ, onde atuo, para que lá se
cumpra o papel de formar pessoas que possam de fato atuar em
software. Em 2010, criei e sigo
ministrando a disciplina de “software para smartphones e cloud
computer” na UFRJ. Em 2015 criei e estou ministrando com a primeira
turma de “Big Data Developer” da UFRJ. Nos
meus cursos, falo muito de tecnologia, mas também falo de
estatísticas de mercado e modelo de negócios. Espero formar gente
que possa ao mesmo tempo entender de tecnologia e de negócios, pois
esse é o perfil mais adequado para favorecer o empreendedorismo.
A melhor
notícia que podemos ter é saber que empreendedores digitais
brasileiros estão tendo sucesso. Essas histórias servem de
inspiração para que mais gente se interesse pela atividade, e com
isso se aumente o volume de gente e de conhecimento sobre esse
assunto. O eventual vigor da
atividade de software deverá também servir de pressão para
que outros segmentos da sociedade funcionem melhor. Felizmente há
bons exemplos sucesso a reportar. Falo sobre isso em outro Post.
Independentemente de o
Brasil efetivamente implementar como política de Estado um plano de
longo prazo para ser forte em software, pode-se tomar individualmente
a decisão de se preparar para atuar nessa atividade. Software bem
feito pode tornar-se meio de vida para muita gente no Brasil. É cada
vez mais comum ver gente boa de software trabalhando no Brasil, em
favor de projetos de empresas estrangeiras que nos contratam. Eu acho
isso excelente. É um sintoma de que software pode de fato uma
excelente alternativa de carreira, com muitas oportunidades. Mas é
claro que quem atua tem que ser realmente bom, e estudar muito. Big Data está particularmente no foco agora. É um momento excelente para se investir em estudar essa tecnologia, e se preparar para oportunidades que com certeza vão surgir.
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Sergio
Barbosa Villas-Boas (sbVB), Ph.D.
software
development, Big Data, cloud, mobile, IoT, HPC, optimization
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