2015-07-04

12) Big Data, como toda tecnologia de informação, tende a tornar-se mercadoria

#bigdata #hadoop #spark

Permito-me a fazer uma breve revisão de um aspecto de teoria econômica. Uma transação econômica consiste tipicamente da venda de um objeto (produto ou serviço). Há um importante parâmetro no objeto vendido, que é o seu “nível de diferenciação”. Se o objeto for muito diferenciado, é dito ser “de marca” (também chamado de “diferenciado”). Se for pouco diferenciado, é dito o objeto ser “mercadoria”. O nível de diferenciação muda a qualidade da transação. Se o mercado está em uma situação de oferta abundante, uma transação de objeto tipo “mercadoria” tende a deixar o comprador feliz e o vendedor triste; já uma transação de objeto tipo “de marca” tende a deixar o comprador triste e o vendedor feliz.

Explico com exemplos. Pensemos primeiramente na missão de comprar objetos do tipo “mercadoria”. Esse é o caso de quem está querendo comprar computadores para equipar uma sala, para digamos 20 pessoas; no caso em que “qualquer computador serve”. Considera-se que há dinheiro disponível, e que se vive num local bem articulado, tal como uma grande cidade, onde há oferta abundante de produtos de informática. A especificação diz que “qualquer computador serve” (o que caracteriza o objeto como mercadoria). Nesse caso, procura-se por preço. O vendedor pouco pode fazer a não ser baixar o preço, o que lhe reduz o ganho da operação de venda. Pensemos num segundo exemplo, na missão de comprar objetos do tipo “de marca”. Esse é o caso de colocar em produção um sistema de informação que é baseado num componente de software que é propriedade licenciada de algum fornecedor. Vou citar um produto em particular com o qual já tive que interagir no caso de um projeto – o IBM web sphere – que é um servidor de aplicação. Uma certa empresa desenvolvera um sistema baseado nesse componente, e desejava colocar em produção 7 unidades do seu sistema. Para fazê-lo, a lei exige que se compre 7 licenças do componente em questão. O preço dessas licenças não era nada barato e estava causando problemas ao projeto. A empresa tinha pressa (sempre tem), e não era viável em pouco tempo adaptar o software para que deixasse de depender do componente em questão, e utilizar uma opção gratuita com funcionalidade equivalente (o componente gratuito mais indicado nesse caso seria o JBoss). Resultado, a empresa acabou comprando as licenças pagando o preço que o vendedor pediu (que era bem alto). Em resumo, no segundo exemplo o objeto negociado era “de marca”, o comprador ficou triste e o vendedor ficou feliz.

A qualidade de um componente de software ser gratuito (muitas vezes combinado com ser também open-source), impede que o usuário do mesmo eventualmente precise pagar por licenças no momento de colocar o sistema em produção. Desde que o componente de software em questão efetivamente funcione bem, a qualidade de ser gratuito e open-source é bem atrativa para o engenheiro de software que toma decisões de dependência tecnológica de sistemas. Os componentes da tecnologia de Big Data, incluindo Hadoop e Spark são gratuitos e open-source. Pode-se implantar um cluster com qualquer quantidade de workers, e não se precisa pagar por licenças dos componentes do Big Data. Isso agrada muito a empresas e consumidores de serviços de informação. Analisemos como fica o ambiente econômico de serviços de informação nesse ambiente cheio de componentes gratuitos e open-souce.

Pela perspectiva das empresas (como consumidoras), governos e outros consumidores de serviços de informação, Big Data é uma excelente opção, em rápida expansão de uso. O fato de ser tudo gratuito e open-source é um fator a estimular muito a sua ampla utilização. Não há possibilidade de um usuário de Big Data tornar-se de alguma forma pressionado em custos no momento de se colocar em produção novos sistemas de informação (como descrito no segundo exemplo, dois parágrafos acima). Em resumo, seja para novos sistemas, seja para substituição de sistemas antigos, pelas suas excelentes qualidades, a tecnologia de Big Data é uma tecnologia no foco do momento atual.

Pela perspectiva das empresas (como fornecedoras), profissionais e consultores de serviços de informação, Big Data é também uma excelente opção, em rápida expansão de uso. O fato de ser tudo gratuito e open-source, que tanto estimula os consumidores, é fator a estimular o estudo da tecnologia, para tornar o fornecedor devidamente conhecedor da habilidade que pretende fornecer. Os melhores projetos e salários hoje tendem a estar relacionados a projetos de Big Data. Mas esse grupo de fornecedores merece uma reflexão adicional. Como aconteceu com todas as outras tecnologias de informação (e.g. Java, web, C++, Banco de Dados e outras), a tendência é que a tecnologia de informação torne-se mercadoria. Como vimos, quando um objeto negociado é da categoria mercadoria, “qualquer fornecedor serve”. Essa é a situação em que o comprador fica feliz e o fornecedor (vendedor) fica triste.

Cientes do inevitável destino de tornar-se mercadoria, um dos instintos dos fornecedores é o de “produtizar” suas melhores habilidades e ideias. Ao invés de fornecer sua habilidade para os consumidores, desenvolver um produto e licenciar o produto para o consumidor. Se o consumidor contrata via outsourcing um serviço de desenvolvimento de software, o consumidor é proprietário desse software. Se o cliente licencia um software, a propriedade segue sempre sendo do fornecedor.

Então o que o fornecedor deve fazer, desenvolver software para os consumidores, ou para si mesmo e licenciar o produto desenvolvido? Essa é uma resposta que varia caso a caso. A resposta depende muito das oportunidades que efetivamente se consegue contratar, e do conhecimento que já se tem acumulado, entre outros fatores. Pode acontecer de um contrato ser interessante para o fornecedor, por leva-lo a incrementar sua experiência com certas tecnologias. Tudo isso é levado em conta na hora de definir o preço do serviço. Para aumentar a complexidade da decisão, tudo varia rapidamente com o tempo. Muita gente está mudando rapidamente sua compreensão das tecnologias. O mundo todo está mudando muito rapidamente, com a introdução de novos serviços que mudam o panorama. Há um exemplo de serviço merece ser mencionado no caso de Big Data. É a possibilidade de se criar facilmente um cluster de Spark na cloud, com quantos computadores se desejar. Essa possibilidade – que está disponível para todos nesse planeta – torna o problema de implantação de cluster de Big Data muito fácil.

É lícito especular que os ventos de mudança seguirão sendo bem fortes. Diante disso, dá vontade de lembrar da frase do Érico Veríssimo: “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”.

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Sergio Barbosa Villas-Boas (sbVB), Ph.D.
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