2015-08-06

13) Big Data e o futuro do trabalho

#bigdata #hadoop #spark

O Brasil tem colecionado notícias ruins ultimamente. Têm decrescido o emprego, a renda, as vendas, a aprovação do governo. Têm subido os juros, o dólar, o endividamento, a inadimplência. Há um agrupamento de crises, incluído problemas na política, na economia, no meio ambiente, na segurança, na saúde, na educação, na moral e outros setores. Estamos obviamente vivendo uma grave crise sistêmica. O presente é ruim, e as perspectivas não são animadoras, pois se as nossas práticas nos levaram ao presente ruim, é fácil argumentar que nós não devemos fazer mais do mesmo. É preciso mudar nossas práticas. Muitos têm opinado sobre como deve ser o novo perfil das nossas práticas, e é isso que eu vou fazer com esse post. Vou centrar meus argumentos em 2 pontos – devemos optar por Capitalismo e por Tecnologia de Informação. Como se verá, isso tem forte relação com Big Data e o futuro do trabalho.

Optar por capitalismo. “Economia” é o estudo do que as pessoas fazem para viver. A sociedade humana, desde remotíssimo passado, tem “relações de troca” entre indivíduos, também chamadas de “transações econômicas”. Isso ocorre quando duas pessoas trocam “valores”. Um exemplo remoto (mas válido até hoje) seria “eu lhe dou uma caça, e você me dá uma lança”. A sociedade atual é muitíssimo complexa, e para agilizar e reduzir o custo das transações econômicas inventou-se o “dinheiro”, que tem muitos sinônimos, sendo um deles “capital”. “Capitalismo” (as vezes chamado de “liberalismo”) é o nome que se dá a uma das possíveis formas de organização das sociedades. Num super sintético resumo, pode-se dizer que uma alternativa ao capitalismo-liberalismo é o “socialismo-comunismo”. Pode haver conceitos híbridos em uma sociedade (em alguns aspectos ser capitalista-liberal, e em outros ser socialista-comunista). Mantendo-se o espírito de grande síntese dos argumentos, pode-se dizer que o capitalismo-liberal enfatiza o incentivo a iniciativa individual, garantindo a quem tem iniciativa a apropriação dos resultados do seu trabalho e do seu investimento. Na visão alternativa do socialismo-comunismo, a ênfase é em iniciativas e atividades controladas por representantes do povo (o governo), que supostamente deveria tomar decisões que maximizam o interesse de toda a comunidade. Membros do governo decidem a carga tributária – que consiste em subtrair os resultados de quem trabalha e investe – para financiar o Estado. Em resumo, o liberal gosta de empresas privadas, e o comunista gosta de empresas públicas.

A iniciativa individual é muito poderosa. A história está repleta de exemplos de o quanto se construiu com iniciativas individuais. Pensemos nesse: em pouquíssimo tempo a humanidade criou a sociedade conectada, com intenso uso de aparelhos móveis (celular). Trata-se de um triunfo, que obviamente é consequência do modelo capitalista, com sua característica de deixar boa parte do resultado do trabalho e do investimento com quem tem a inciativa. Por um lado, enriquecem os donos das grandes empresas que fornecem celulares e seus componentes. Mas por outro lado, enriquece toda a humanidade, que se torna muito mais eficiente ao passar a contar com o novo e poderosíssimo recurso, que inclusive faz melhorar a vida de muita gente das camadas populares.

O Brasil tem muitas deficiências. Para que a vida melhore, é preciso que se trabalhe e se invista, para construirmos um mundo melhor. Defendo que o sistema capitalista é claramente o mais adequado para conduzir e incentivar muita gente a ter inciativa de trabalhar e investir. Os países que eu mais admiro, e que tem padrão material de vida muito superior ao nosso, construíram sua riqueza com base no sistema predominantemente capitalista. Dentre esses países estão EUA, Canada, Inglaterra, Alemanha, Japão, Singapura.

Percebe-se que o Brasil tem cultura com forte preconceito contra o Capitalismo. É perfeitamente lícito qualquer pessoa ter sua própria opinião sobre como devemos nos organizar. Mas penso que muitos que repetem “chavões” contra o capitalismo, de fato pouco sabem sobre o sistema. Um amigo meu recentemente escreveu um livro que ajuda a entender o capitalismo, [ link ] .

http://www.amazon.com.br/gp/product/B0131AY15A?keywords=capitalismo%20modo%20de%20usar&qid=1438869748&ref_=sr_1_1&sr=8-1


Optar por tecnologia de informaçãoArgumento que a única forma de se obter prosperidade coletiva é fazer aumentar a eficiência média da sociedade. A palavra “eficiência” representa a medida de quanto se consegue produzir com uma dada quantidade de recursos. Nas minhas aulas de empreendedorismo eu sempre faço o seguinte e breve exercício. Pergunto à turma quem gosta de comer batata frita. Sempre ocorre de muita gente levantar o braço. A batata frita tem 2 componentes: “batata” e “frita”. Pensemos no segundo componente, que requer tipicamente o consumo de óleo de soja. O leitor tem consciência de como se planta e se colhe soja no Brasil hoje? Procure saber. A intensidade do uso de tecnologia e mecanização é enorme, resultado de uma longa sequência de investimentos. Nossa soja é a mais produtiva do mundo. Esse é outro triunfo do sistema capitalista. A propósito: o setor de agri-business é um dos poucos que nos dá notícias boas atualmente. Com muita tecnologia, há muita produtividade, e há muita abundância. A sociedade toda torna-se próspera em decorrência disso.

Colheita de soja, com alta economia de escala


A tecnologia de informação tem o potencial de aumentar enormemente a eficiência da sociedade. Desde que boa parte dos indivíduos passou a estar sempre carregando um dispositivo digital conectado e ligado (o celular), muitos procedimentos podem ser repensados para que sejam mais eficientes. A economia compartilhada é uma área que tem mostrado particularmente muito potencial, sendo que algumas empresas de destaque no setor incluem uber e airbnb. Há muito mais a fazer. Em quase todos os setores há transformações esperando para serem implementadas, sendo muitas geradoras de aumento de eficiência. Pensando um pouco, podemos reformar ou revolucionar várias áreas, incluindo educação, entretenimento, comércio, política, saúde, justiça, meio ambiente, finanças, arte e muito mais. Tudo isso já está acontecendo. Quem chega primeiro, come a maior fatia do bolo. Seria muito bom que nossa organização social nos incentivasse a agir agora para construir esse novo mundo, de forma a garantir uma parte desse bolo para nós.

Estou obviamente sugerindo que a sociedade brasileira adote a opção estratégica de ser competitiva em tecnologias digitais. Somos atrasados em tudo, mas há que se lembrar que todos temos igual acesso ao elemento fundamental para a inovação: neurônios. Associe-se a isso o fato de que as tecnologias digitais de suporte são mercadorias a disposição de todos quase sem distinção. Quando uma grande empresa lança um produto ou serviço (Google, Amazon, Apple, Samsung, Microsoft, IBM, Apache, Gnu, Databricks), e se esse serviço for impactante no ambiente, todos temos acesso ao serviço ao mesmo tempo. O Matei Zaharia, dono da Databricks, bateu o recorde mundial de sort benchmark com tecnologia de Big Data, e ele não tem datacenter (alugou da Amazon). Hoje ele tem uma empresa que vale várias dezenas de milhões. Em teoria, tudo poderia ter acontecido no Brasil. Na economia digital, os numerosos e lamentáveis itens do “custo Brasil” são relativamente menores que em outros setores.

Discutamos a evolução do trabalho, do tradicional ao futuro. A relação tradicional de trabalho considera o trabalhador “hipossuficiente” para negociar seus interesses. Isso é de fato verdade quando se pensa em uma atividade tradicional tal como um cortador de cana com facão e sua relação com o dono do canavial. Em função disso se criou um conjunto de leis trabalhistas, sindicatos para trabalhadores e patrões e outras instituições. No caso do cortador de cana, isso faz bastante sentido. Mas no caso da economia criativa e digital, essa forma de se relacionar parece uma aberração. O trabalho digital é altamente criativo, altamente compartilhado, com muito forte componente de conhecimento. A forma capitalista de organização ajusta-se perfeitamente, criando incentivo para criação e financiamento do crescimento de empresas novas (startups). Para prosperarmos na economia digital, precisamos estudar os modelos que funcionam, e adaptar à nossa sociedade de forma pragmática.

Big Data é uma das inovações que impactam fortemente o ambiente atual. Organizando os computadores de uma forma inovadora, conseguimos uma potência computacional aumentada, e a partir disso podemos fazer muitas coisas que não podíamos antes. Essa é uma área em ebulição. Muito está sendo construído exatamente agora. A janela está aberta, mas vai se fechar (isso sempre acontece). Não devemos esperar para passar pela janela. Por isso, é importante investir agora para se qualificar e criar novos sistemas valiosos para toda a sociedade, e no processo obter prosperidade pessoal. O momento de se estudar e investir em Big Data é agora, mesmo estando o Brasil em crise, ou talvez justamente por isso.

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Sergio Barbosa Villas-Boas (sbVB), Ph.D.
software development, Big Data, cloud, mobile, IoT, HPC, optimization
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Um comentário:

  1. Meu pai afirmava um jargão popular: "Muitos possuem iniciativa, mas falta-lhes "acabativa" .

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