2015-08-22

14) Saindo da crise andando para frente, com Big Data e demais tecnologias digitais

#bigdata #hadoop #spark

Convido o leitor a apreciar a seguinte analogia: comparar andar de uma pessoa com a economia. Uma pessoa andando tipicamente o faz segundo um ciclo periódico conhecido como “andar dinâmico”, que pode ser descrito assim: o andar consiste em uma série de passos (ciclos), sendo que cada passo parte de uma posição estável, seguido de uma fase instável em que a pessoa “cai” para a próxima posição estável, a partir do qual o ciclo se repete. Uma pessoa observadora sabe que o mundo ultimamente está absorvendo inovações rapidamente. Em particular, as inovações relacionadas à tecnologia digital têm alto impacto na vida de muita gente. Pensemos no Uber concorrendo com taxis, ou WhatsUp concorrendo com SMS. Cada inovação dessas “desestabiliza” a organização que se fazia para resolver algum problema (deslocamento em cidade, ou troca de mensagens de texto), e estimula que a sociedade alcance um novo patamar de estabilização. É como uma pessoa dando um passo. Outra forma de se referir a esse fenômeno é o que o economista austríaco Joseph Schumpeter chamou de “destruição criativa”. A criação de uma inovação destrói a forma anterior de se executar alguma coisa.

Há quem chame de “Big Data” o nome do fenômeno econômico atual de uso massivo de tecnologias digitais, que cria e processa enormes volumes de dados. Eu considero em parte essa designação um abuso de notação, preferindo chamar de Big Data os sistemas computacionais que usam sistema de arquivo distribuído, tal como Hadoop ou Spark. Mas admito que faz um certo sentido chamar de Big Data também o fenômeno econômico citado, pois muitas vezes uma coisa leva ao uso da outra.

Pensemos nas “dores” causadas pela incorporação de novas tecnologias em geral, em especial as tecnologias digitais. Quem vive de vender algum produto ou serviço baseado em uma tecnologia, compreensivelmente fica apreensivo quando uma surge alguma inovação que torna o seu meio de vida irrelevante ou obsoleto. Todos precisamos viver de alguma coisa, e investe-se tempo e dinheiro para se conquistar uma posição na sociedade que nos conduza a ter um meio de vida. É um instinto compreensível que se queira preservar o meio de vida que se tem. Mas a proteção ao meio de vida das pessoas é ao mesmo tempo um entrave à inovação. E em geral a inovação interessa a coletividade. Fica-se, portanto, em uma situação de se decidir o que vale mais: proteger um grupo ou proteger a coletividade. A história é repleta de casos como esse, e o momento atual está convivendo com diversos casos justamente agora. São tantos os exemplos de inovações que desestabilizam setores estabelecidos, que é impossível que o leitor não reconheça alguns dos exemplos listados abaixo.

Tradicional
Inovação
TaxiUber
Telefone fixoTelefone celular
SMSWhatsUp
Canais de TVYoutube
Redes sociais tradicionaisFacebook e similares
Correio, cartasEmail
Agência de empregosWeb empregos, LinkedIn
Ensino presencialEnsino a distância

O mundo ficou melhor ou pior com a introdução dessas inovações? A resposta em geral é de que o mundo está muito melhor. Existem muito mais e muito melhores produtos e serviços para se escolher, e em muitos casos oferecidos por menos que antes. Viver em uma sociedade onde há muitos produtos e serviços para escolher, e oferecido por cada vez menos, é bom ou ruim? Muitos tenderiam a dizer que é bom. Mas para que o indivíduo efetivamente ache que sua vida está boa, é preciso que consiga ter um meio de vida, isso é, que uma parte do valor criado pela sociedade seja feito por ele, ou elaborando melhor, que a pessoa esteja inserida ou conectada a uma parte relevante do fluxo de criação de valor da sociedade.

Considerando que as inovações estão por todo lado, afetando quase todos os segmentos econômicos, o segmento em que o leitor atua deve ser um dos que está experimentando mudanças. Se está com dificuldade de permanecer competitivo, que atitude se deve tomar? Digamos que o leitor é taxista, e considera o Uber um competidor desleal. É sensato tentar bloquear legalmente essa competição? E se quiser juntar uns colegas para uma manifestação pedindo isso, talvez usará o Facebook ou o WhatsUp para chamar os colegas? Lembrou-se que as telefônicas estão querendo proibir o WhatsUp porque acham que é competição ilegal contra elas? Analogamente, os executivos das telefônicas que querem se reunir para pedir o bloqueio do WhatsUp eventualmente se deslocarão usando o Uber. Em resumo, os grupos específicos reivindicam eliminar a competição no seu segmento, mas acham ótimo a competição no segmento em que não atuam.

Vou dar uma opinião, que é particularmente adequada para ser considerada nesse momento de crise em que o Brasil se encontra. Devemos seguir em frente. Devemos deixar o vento das mudanças nos afetar, e construir moinhos de vento para aproveita-los. Ao invés de brigar contra o Uber, criemos um concorrente! Também é bem-vindo que se melhore os taxis para que se enfrente a concorrência, com qualidade e preço. Há taxas demais para o taxista pagar? Vamos repensar isso. Ao invés de bloquear o WhatsUp, criemos outros serviços de mensagens que sejam tão bons quanto, ou melhores. Talvez o preço do SMS esteja caro demais. Talvez as telefônicas possam fazer mais para melhorar o serviço e baixar o preço. O governo cobra imposto demais? Vamos repensar isso. Vamos identificar o que é obsoleto, caro demais e ineficiente, e substituir por alternativas mais adequadas. Temos que competir e lutar para sermos desejados pela qualidade e preço dos nossos produtos e serviços. Para isso, devemos fazer o mesmo que é feito pelos povos que fazem os produtos e serviços que encantam os clientes e com isso mudam o mundo. Precisamos estudar, pesquisar, investir, e melhorar o ambiente de negócios. Devemos incentivar quem quer trabalhar, e retirar os incentivos de quem quer ficar parasitando os que trabalham. Quem quer trabalhar e produzir não deve ser gerenciado e/ou controlado por pessoas que pouco produzem.

Big Data e uso com sabedoria de tecnologia de informação tem um potencial gigantesco de produzir eficiência estrutural. Quem tem cabelos brancos pela idade deve lembrar-se da época em que a declaração do imposto de renda era feita manualmente. Era um horror completo. Hoje, com os programas da receita federal, tudo ficou muitíssimo mais simples. Perde-se menos tempo e consegue-se fazer a declaração num ambiente muito melhor, com muito menos erros. Para entregar a declaração, basta um click. A introdução do sistema de imposto de renda por software tornou o Brasil mais eficiente. Esse exemplo mostra o quanto a tecnologia de informação agiliza e cria eficiência estrutural. A única forma de conquistarmos prosperidade coletiva duradoura é transformar o país em uma sociedade com alta eficiência estrutural. Isso se consegue inicialmente com uma educação forte. Adicione-se isso a um ambiente em que todos os segmentos são projetados para serem eficientes. Tudo deve ser feito com baixo consumo de recursos. O tempo para se fazer as coisas deve ser cada vez mais curto. O que pode ser automatizado deve ser automatizado. Empregos inúteis ou obsoletos devem ser substituídos por sistemas automáticos. Devemos celebrar e incentivar as inovações, especialmente as que trazem eficiência para a sociedade. Devemos incentivar startups. Devemos incentivar e investir muito em estudo, e fazer com que o estudo seja prático e gerador de valor percebido por qualquer um. Devemos estudar o que é necessário aprender. Devemos entender o mundo novo e digital que está sendo construído, e nos tornar parte dele.

Em particular, o estudo das tecnologias de Big Data é hoje em dia um dos grandes pontos focais de toda a transformação que o mundo vem experimentando. Quem não entender dessas coisas, vai ficar para trás. É inevitável competir. Se demorarmos a nos preparar para a competição, vamos ficar para trás. A história mostra que lutar contra as inovações é uma luta perdida. Se não fosse assim, estaríamos usando ainda as coisas que hoje consideramos obsoletas, tal como disquete de computador, filmadora super 8, charrete para andar na rua, etc.

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Sergio Barbosa Villas-Boas (sbVB), Ph.D.
software development, Big Data, cloud, mobile, IoT, HPC, optimization
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