2015-05-06

6) Big Data, Cloud e SaaS versus IaaS

#bigdata #hadoop #spark

Para que se implante um novo serviço baseado em Big Data, é preciso que um cluster com n computadores (workers) exista em algum lugar. Quem deseja entregar um serviço de processamento, deve controlar o data-center que contém o cluster para a produção desse serviço. Essa é a situação por exemplo de quem faz funcionar uma empresa com modelo de negócios “Software como Serviço (SaaS)”, em que um cliente paga para usar um processamento que lhe é entregue pela rede. No ano de 2015 se está observando numerosa criação de startups que prestam serviços relacionados a Big Data, com modelo de negócios SaaS. Como já comentei nesse Blog, em serviços de tecnologia de informação, o foco correto deve ser na eficácia. Ganha o jogo quem entrega o serviço feito, nas condições que o ambiente requer. O que qualquer empreendedor precisa fazer é descobrir como oferecer seu produto ou serviço de forma que consiga atrair clientes, sendo que o cliente comprará o produto ou serviço pensando basicamente na sua própria perspectiva. Isso quer dizer que o produto ou serviço deve apresentar um conjunto de preço, valor, qualidade, suporte e outros que seja capaz de atrair clientes.

No caso de empresas relacionadas a Big Data, é particularmente provável e adequado atuar num modelo de negócios SaaS, onde o serviço é vendido no contexto de “Business to Business (B2B)”. Por exemplo: uma empresa de media (setor cultural) deseja obter um relatório sintetizado que mostra como o seu produto cultural está sendo comentado por redes sociais. Isso pode ser feito a partir dos dados, que são vendidos pelas empresas de rede social, e processados para que se obtenha a síntese desejada. A tecnologia de Big Data é muito adequada para dar conta desse requisito, mas sobre a tecnologia básica de Big Data é preciso que se desenvolvam algoritmos configuráveis para que se atinja o resultado na forma que o cliente realmente entenda e veja valor para si (e, portanto, anime-se a pagar pelo serviço). O empreendedor no modelo SaaS tem a responsabilidade de desenvolver o software sobre a tecnologia de Big Data, de colocar o software em produção, de vender o serviço, e de entender o que os clientes querem para seguir aperfeiçoando o software.

Uma empresa startup que se proponha a fazer algo como descrito acima opera no risco, como toda empresa privada com fins lucrativos. A proposta de negócio pode dar errado. Para que dê certo, o dinheiro que os clientes pagam deve ser suficiente para pagar salários, impostos e outros custos, e ainda dar lucro. Um aspecto interessante a considerar são as opções que um empreendedor como esse tem para viabilizar o data-center para seu negócio. É quase uma certeza que o empreendedor vai escolher alugar um data-center na nuvem. Isso porque um data-center na cloud é muitíssimo menos custoso e mais simples de se implantar que uma alternativa local.

Alguns clientes têm motivos – muito compreensíveis – para não permitir que os dados sejam processados fora de seu data-center local. Exemplos desses clientes incluem empresas financeiras e empresas com alta tecnologia (no setor de petróleo, farmacêutico, militar e outras). Mesmo para atender clientes assim, a cloud é muito útil para um empreendedor prestador de serviço. Isso porque antes de se fechar um contrato de maior valor, em geral são feitos vários testes ou provas de conceito. Isso pode ser feito na cloud a custos baixos, usando dados falsos (mas no formato dos dados verdadeiros). Em se ficando satisfeito com o desempenho experimental feito na cloud, com todos os envolvidos convencidos de que o serviço será de fato feito a contento, então passa-se para a fase de se implantar o serviço dentro do data-center do cliente, com a exata mesma tecnologia que se testou na cloud.

As empresas fornecedoras de data-center na cloud operam um modelo de negócios conhecido como “infraestrutura como serviço (IaaS)”. O custo do serviço prestado por essas empresas é um fator da maior importância para sua competitividade. Como consequência, as empresas nessa categoria têm altas vantagens por tornarem-se grandes e com abrangência mundial, e o preço do serviço torna-se cada vez menor. Uma lista das atuais empresas importantes nessa categoria inclui Amazon (produto AWS), Google (produto Cloud Platform), Microsoft (produto azure), Digital Ocean e muitas outras. O crescimento da atividade de IaaS tem sido explosivo. O leitor interessado pode procurar por exemplo por “amazon IaaS growth 2014”, e ler sobre isso.

O uso massivo e crescente de data-center remoto na cloud é um fenômeno mundial, e faz surgir questões de interesse estratégico. Esse uso massivo leva a que muito processamento seja feito fisicamente em local e infraestrutura não controlada pelo governo de um país. Tal situação permite prever teoricamente um novo tipo de pressão política entre nações, que poderia ser negativo para países como o Brasil. Uma política que eventualmente prevenisse essa situação seria a de se incentivar uma indústria local de cloud a partir de se onerar com impostos a compra de serviços IaaS feitos por empresas estrangeiras. Mas não há almoço grátis, ou seja, a eventual implantação de uma política para proteger a atividade local de IaaS é ao mesmo tempo um forte estímulo negativo para a atividade de se empreender e inovar no modelo SaaS. A sociedade deve estar preparada para discutir qual política deseja para regular a atividade de processamento digital de informações.

Eu trabalho na UFRJ desde 1991, e atuo ensinando e orientando alunos em temas como desenvolvimento de software para Big Data, cloud, mobile, otimização e outros. É com orgulho que observo que alguns dos nossos melhores alunos abrem empresas startups em atividades como SaaS. Entendo que é muitíssimo mais produtivo e promissor para toda a sociedade Brasileira apostar no crescimento das empresas no modelo SaaS (não necessariamente Big Data) do que proteger a atividade IaaS. Uma das poucas coisas que ainda se consegue fazer no Brasil com chance de ser competitivo mundialmente é uma empresa de software no modelo SaaS, pois nossas severas deficiências (que compõe o chamado “custo Brasil”) são menos relevantes no caso da atividade de software. A eventual política em favor de se proteger a atividade de IaaS vai encarecer o uso de data-center remoto, e retirar competitividade do SaaS, um promissor segmento para o Brasil.

Para o leitor que imagina que uma política para proteger IaaS onerando o SaaS seria boa, sugiro que pense como seria nossa vida se tivéssemos uma política análoga para proteger a produção de chip de CPU, que é uma atividade ainda mais competitiva e concentrada que IaaS. Digamos que seja possível produzir no Brasil CPU's no Brasil por um custo 100 vezes maior. Seria sensato onerar toda a sociedade Brasileira forçando todos nós a usar CPU's produzidas aqui, ao invés de comprar essa mercadoria por quem a produz de forma eficiente? Se eventualmente fizéssemos isso e de fato onerássemos toda a sociedade, haveria chance real de um dia termos uma indústria nacional de CPU que atingisse competitividade mundial? O que a história econômica recente nos ensina? O que fazem outros países?

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Sergio Barbosa Villas-Boas (sbVB), Ph.D.
software development, Big Data, cloud, mobile, IoT, HPC, optimization
sbvillasboas@gmail.com, sbvb@poli.ufrj.br
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